Por que não haverá peak panel

No ano de 2008 aconteceu o congresso entitulado Frontiers (organizado pela Esomar), que reuniu no Canadá os principais participantes da indústria mundial de estudos de mercado e opinião. Além de muitas conferências interessantes – agradou-me especialmente a de Hernando de Soto, que expôs com muita clareza por que o problema do desenvolvimento tem tanto que ver com a estrutura jurídica dos países, em especial com a existência de direitos de propriedade bem definidos-, este congresso me serviu, um ano mais, para comprovar uma coisa: estamos só ao princípio de uma revolução nos métodos de recolhida de dados para investigação social e de mercado. A revolução evidentemente é a Internet, e a consideração de que estamos ao princípio é só uma das coisas que quero contar a seguir.
Apesar de vermos muitas empresas bem estabelecidas, com um faturamento importante - que, ingenuamente, poderíamos pensar que encontraram um modelo definitivo - a verdade é que se trata de um primeiro modelo, de uma primeira fórmula. Repassemos o sucedido estes anos (que faz pouco tempo que tudo começou!). Primeiro se amplia o uso do computador entre toda a população, algo que nos anos 70 parecia impensável. A seguir, aparece Internet, e todas estas pessoas conectam seus computadores entre si. Ato seguido, a indústria da pesquisa vê ante seus olhos a possibilidade de entrevistar as pessoas de forma remota; de, definitivamente, fazer que as pessoas desde suas casas ou seus trabalhos respondam a questionários online, e as empresas da indústria processem os dados e os analisem. Tudo seria bem mais barato e mais eficiente, pensamos. Mas em seguida aparece um “pequeno” inconveniente: como se contatam as pessoas neste novo mundo? Solução: os painéis online. Muitas empresas na indústria se concentram em captar “respondentes de enquetes”, pessoas que aceitam participar em estudos de mercado em troca de certos incentivos, ou, simplesmente, porque lhes agrada dar sua opinião. O sucesso é imediato. Rapidamente as empresas começam a realizar certos tipos de estudos (especialmente aqueles nos que há imagens, áudio ou vídeo) via web utilizando estes painéis online, e as empresas que criaram os painéis e os gerem, convertem-se, como disse ao princípio deste parágrafo, em empresas fortes, bem estabelecidas. Desde então, sustento, vivemos no que poderíamos chamar de “ilusão da estabilidade”.
Conto-lhes a que me refiro, é simples. O rápido sucesso dos painéis online existentes nos gerou a ilusão de que o modelo inicial de painelização das grandes empresas (SSI, Research Now, Toluna, Greenfield, GMI, e tantas outras) é estável; que funciona, que se manterá por muito tempo. Ah, mas aqui está em minha opinião o grande erro – um erro que cometemos sempre os humanos-, a miopia. Como ia ser definitivo um modelo de painelização que nasceu faz apenas 8 anos, e que depende inteiramente da evolução do ecossistema tecnológico e comportamental da Internet? Para termos uma idéia do erro que poderíamos estar cometendo, não há melhor exemplo do que os portais horizontais do que nos anos 90 víamos como os grandes “players” do mundo Internet. Tratava-se de “portas” de acesso à rede, lugares que reuniam conteúdos de muitos tipos numa espécie de loja de departamentos virtual…lugares que hoje são absolutamente insignificantes, que nenhum de nós utiliza. Não senhores, não nos equivoquemos. Os provedores de online sampling ainda não chegamos a um bom modelo de valor para os respondentes e os pesquisadores, e tudo o que estamos vendo sofrerá muito cedo mudanças “dramáticas” (que diria um anglo-saxão).
Com isto chego ao núcleo deste post. Estou completamente convencido de que nunca existirá o que se chamoupeak painel” na indústria. Para os que não conhecem o conceito, trata-se da predição de que de repente a oferta de respondentes de enquetes não será capaz de satisfazer à demanda, e se produzirá um colapso na indústria. Pois bem, creio que uma idéia como a de peak painel é precisamente uma idéia que emana da ilusão “de estabilidade” da que eu lhes falava antes. Por que? É muito claro. Um colapso de oferta como o que prevê o peak painel só pode ocorrer se existe uma única fórmula de painelização e esta fórmula tem problemas. Isto é, se por alguma razão os modelos atuais de painel fossem os únicos possíveis, e, subisse a demanda progressivamente enquanto se mantém fixa a quantidade de pessoas dispostas a participar em enquetes, pois sim, haveria peak painel. Mas o erro (imenso) é considerar que os atuais modelos de painelização são os únicos possíveis. Mas se em realidade são quase os primeiros que provamos! Mas se estamos em plena revolução do comportamento dos usuários de Internet! Que ingenuidade pensar que não aparecerão fórmulas que aumentem as pessoas predispostas a participar em enquetes! (…e que pessimismo, é quase suspeito…)
Quem previu peak painel para a indústria creio que está olhando o mundo atual com uns óculos de metade do século 20 ainda. Na realidade, há algo muito revelador de que olham, efetivamente, com os óculos equivocados. E é que o mesmo termo, peak painel, vem dos debates a respeito do abastecimento de petróleo no mundo. A teoria original se chamou peak oil, e sustentava que o crescimento da demanda de petróleo era superior ao crescimento da capacidade de extração de petróleo, condicionado (este último) pela tecnologia de extração. Alguém crê que as tecnologias web e o comportamento dos internautas evoluirão nestes próximos anos tão lentamente como as tecnologias de extração de petróleo? (porque esta é a hipótese subjacente à tese do peak painel!!).
Não haverá peak painel. A teoria é muito memética, mas acreditem em mim, não haverá nenhum colapso da oferta, apenas mudanças nas tecnologias/metodologias de captação e pesquisa. E se os meus argumentos não lhe convencem, direi-lhes que ao longo destes dias de congresso na bonita cidade de Montreal, Canadá, tive a ocasião de falar com vários dos principais atores nesta indústria do online fieldwork, e pude comprovar o que lhes dizia: que não haverá peak painel. E até aqui posso falar.

Escrito por German Loewe.

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