Pesquisa Mobile: Para o pesquisador ou respondente?

Artigo publicado na Revista Européia "Investigación y Marketing, número 128 - Aedemo" (Edição de Setembro de 2015).

Autores: Carlos Ochoa e Vanessa Castro

Atualmente os smartphones tomaram conta da vida das pessoas. Pela primeira vez, ocorreu uma mudança tecnológica na coleta de dados de opinião imposta pelo respondente e não pelo pesquisador. Apesar do adjetivo "mobile" ir além de uma tendência tecnológica, ele representa um novo estilo de vida. Esse lifestyle ainda não foi suficientemente estudado, pois não sabemos até que ponto os dados coletados via dispositivo móvel são semelhantes aos obtidos via PC.

Mobiles

 

A revolução científica

A humanidade vive uma época de desenvolvimento acelerado. As mudanças ocorrem uma atrás das outras, com intervalos de tempos cada vez menores. Não é uma percepção subjetiva, de fato é “algo mais”. Yuval Harari, em sua magnífica obra “Sapiens”, enfatiza que nós estamos imersos em uma revolução científica iniciada a 500 anos atrás, onde o homem adquiriu consciência da sua própria ignorância e, ao mesmo tempo, desatou um apetite voraz pelo conhecimento. Esta profunda mudança social está na raiz do progresso sustentado pelo que nós experimentamos hoje em dia.

As mudanças são cada vez maiores e causam maior impacto. Alguns autores, como Stewart Brand, autor de “The Clock Of The Long Now”, argumentam que a tecnologia é o fator chave da aceleração da humanidade. As evoluções tecnológicas se realimentam e permitem que o ser humano evolua cada vez mais rápido. Descobriram uma nova tecnologia que permite construir computadores mais rápidos, que permitem pesquisar novas tecnologias, tecnologias que criam computadores ainda mais rápidos... É um ciclo contínuo de realimentação que leva o progresso a nível exponencial através de nossa percepção a tempo real. É exatamente esse enorme impacto que as novas tecnologias causam na vida das pessoas, nos hábitos e na sociedade no geral.

Mobile: Mais que uma tendência

Analisando as grandes mudanças tecnológicas e sociais que vimos nos últimos 50 anos, precisamos destacar Mark Zuckerberg, fundador de Facebook, que comentou que se tivesse que criar o Facebook hoje em dia, criaria diretamente um aplicativo mobile.

Em 1991, a telefonia móvel na Espanha alcançava apenas 100.000 linhas. No ano 2000, havia mais de 24 milhões de linhas em funcionamento. Em 2014, 96% da população dispõe de um dispositivo mobile, onde 81% são smartphones, capazes de conectar-se à Internet e executar aplicativos.

Não faltam exemplos para notar como o mobile afetou e ainda afeta nossas vidas. Estamos permanentemente conectados, dependendo do nosso celular para tudo. Antigamente era comum ver pessoas lendo os jornais em cafés, praças... agora vemos internautas conversando via Whatsapp, consultando Facebook ou Twitter, lendo o jornal... online! O mobile é mais que uma tendência, é uma autêntica necessidade (criada) que levou o aparecimento de uma síndrome de dependência conhecida como “nomofobia”, presente desde 2011 em 53% da população britânica, segundo estudo publicado por YouGov.

O mobile e a pesquisa

Como o setor de pesquisa de mercados assimilou essa radical mudança tecnológica e social? Até agora, as mudanças relacionadas com a coleta de dados e opiniões sempre foram escassas e espaçadas pelo tempo, além da iniciativa sempre ter sido promovida e implementada – com grande esforço – pelos próprios pesquisadores.

Assim foi a introdução da pesquisa telefónica, foi necessário um custoso desapego da telefonia fixa como serviço universal. Em países da América Latina, como o México, a pesquisa via telefone segue com grandes dificuldades de acesso as classes baixas e forte competência do entrevistador, devido aos baixos salários.

O questionário online passa por dificuldades similares. O ritmo da adoção da “internet clássica” (através do PC) por parte da população foi sustentado pelo tempo, porém desigual em diferentes idades (Espanha) e estratos socioeconômicos (América Latina).

A  pesquisa online passou por uma quebra de paradigmas na participação da população. A pesquisa face to face e telefônica são invasivas e não remuneradas, sendo insustentáveis no mundo digital, onde o consumidor é um sujeito ativo, com pleno controle de suas decisões e pouco disposto a perder tempo. Essa situação provocou a criação de grandes painéis online, formado por pessoas que aceitam dar sua opinião em troca de incentivos e presentes.

Com o mobile, tudo está ocorrendo de forma diferente. Inicialmente, a indústria de pesquisa enxergou nesse dispositivo mobile uma oportunidade de estender as pesquisas telefônicas a targets específicos (jovens). Posteriormente, quando era óbvio que o mobile representava uma revolução incomparável a qualquer estrato da sociedade e em vários países, trataram-se de migrar todas as pesquisas telefónicas ao online.

Com a chegada do acesso à internet via mobile, nos tornamos testemunhas de uma mudança sem precedentes. Pela primeira vez, o próprio consumidor implantou uma nova forma de participar de pesquisas, sem esperar essa iniciativa dos pesquisadores. De forma similar ao que ocorreu em outros setores, são as empresas que precisam se adaptar ao novo estilo de vida dos consumidores, estabelecendo um novo canal de comunicação entre eles.

As empresas dedicadas a coleta de dados e opiniões através da internet, se depararam com usuários interessados em responder pesquisas através de seu dispositivo de maior afinidade: seus Smartphones.

Você pode conferir o artigo na íntegra na Revista Investigación y Marketing. Nº 128 – Edição de Setembro de 2015.

Suscríbete a nuestro blog y recibe las últimas novedades aquí o en tu email.