Sobre como fazemos doações

Interessante ‘paper‘ apresentado pelo Robin Hogarth, referência mundial em ‘behavioral decision making’ e que atualmente se encontra dirigindo um prestigiado programa de pesquisa sobre esta área na UPF (Barcelona), com relação à forma com que as pessoas  tomam decisões sobre doações a ONGs.

De acordo com os resultados obtidos por Hogarth através de um estudo experimental realizado com a colaboração da Netquest – facilitando a amostra necessária mediante seu painel de consumidores na Espanha – a forma em que uma pessoa se propõe a doar dinheiro, altera o comportamento da mesma. Alguns dos resultados deste estudo são esperados, como o fato de que um maior conhecimento das ONGs propostas incrementa o valor médio das doações realizadas. Outros resultados não são tão intuitivos. Por exemplo, ao oferecer ao doador um número maior de ONGs para realizar a doação, ou um número maior de campanhas humanitárias da mesma ONG, o valor médio total das doações se incrementa.

A metodologia seguida neste estudo é muito interessante. Para obter informações confiáveis, que reflitam o comportamento real das pessoas – e não um comportamento hipotético – Hogarth desenvolveu o seguinte experimento: selecionando um grupo de membros do painel Netquest dispostos a participar de uma pesquisa convencional, lhes foi oferecido – antes de acessarem a pesquisa – a participação em um sorteio de 500€ como prêmio adicional ao incentivação básica da pesquisa. Uma vez que completam a pesquisa, lhes é oferecida a opção de doarem uma parte do eventual prêmio a diferentes ONGs, podendo o participante eleger entre não doar, doar uma parte dos 500€ ou doar o prêmio inteiro. Este desenho reproduz de uma forma confiável o comportamento real do painelista, já que lhes é informado que aquela decisão que tomar na sua doação será efetuada caso sejam os premiados. Portanto, se um participante decide doar os 500€, se for o ganhador não perceberá nada do prêmio, mas  a doação será realizada de acordo com a decisão anterior.

Os resultados são conclusivos. Ao oferecer 3 possíveis ONGs para realizar as doações, o valor médio das mesmas subiu para 236€. Aumentando as possíveis ONGs para 8, a doação subiu para 314€. Para 16 ONGs, esta quantidade alcançou 326€. Um fenômeno similar foi observado ao oferecer ao participante doar seu prêmio a uma campanha humanitária (doação média de 149€), a 7 campanhas (227€) e a 13 campanhas (255€).

Independente do valor prático dos resultados para as próprias ONGs, este tipo de colaboração entre acadêmicos e empresas de campo online abrem um interessante modo de pesquisa: o estudo do efeito que tem o “meio” no “comportamento” do respondente. A pesquisa online não deixa de ser um “artefato” imperfeito de coleta de informação, o formato que pode afetar o comportamento do participante e consequentemente introduzir vieses na medida desejada. O experimento relativo a estes efeitos deveria ser prioridade para as empresas que se encontram neste setor, e a proposta metodológica de Hogarth é o caminho a seguir.

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