Recentemente o jornal espanhol "La Vanguardia" publicou um breve e divertido artigo de Albert Satorra, professor de Estatística da Universidade Pompeu Fabra (centro de pesquisa líder no domínio das estatísticas, onde a Netquest colabora há 3 anos). Satorra é um acadêmico com prestígio reconhecido nos setores onde desenvolveu sua carreira, principalmente na área de análise multivariada, modelagem de equações estruturais e estatística dos dados da pesquisa e do painel.
É muito gratificante quando um meio de comunicação geral dá visibilidade a personalidades do mundo estatístico. A receita para conseguir que o público geral se interesse por este campo é sempre a mesma: mostrar exemplos concretos de como a estatística, essa ciência complexa e inacessível para o cidadão, realmente afeta nossas vidas e nosso cotidiano. Neste sentido, Satorra nos deixa uma boa coleção de exemplos durante sua entrevista.
Média e mediana
Quando perguntam ao entrevistado sobre o erro estatístico mais comum, Satorra responde com um exemplo que ilustra a diferença entre a média e a mediana: Li recentemente num jornal que a "renda média da Ciutat Vella (um bairro da cidade de Barcelona) tem aumentado": que grande notícia, felicitava o jornalista. Agora se o Bill Gates entrar num bar, mediando a média de renda do local - a soma de todos os ingressos dividido pelo número de clientes - a média seria de multimilionários, mas na realidade a maioria está muito abaixo da média. Em contraste, a mediana é a cifra que está no meio entre a lista de maior e menor número de ingressos e, mesmo que com a chegada de Bill Gates, nada mudaria. A Ciutat Vella talvez tenham 4 ricos em média, e os demais permanecem pobres. Em contraste, a mediana revela se as pessoas são de fato ricos ou pobres.
Regressão à média
Quando o entrevistador pergunta se o dinheiro estatisticamente nos torna mais ou menos felizes, Satorra responde que é algo que poderia ser determinado por meio de uma análise multivariada que ele desenvolve, mas não tem a resposta de imediato. No entanto, Satorra comenta o famoso problema da regressão à média: (...) Eu posso te dizer se os filhos das estrelas do basquete serão mais alto que os pais. Galton mostrou a foto do seu primo Darwin, onde seus filhos são bem altos, porém não tanto quanto seus pais. Se aprofundando na estatística, Galton descobriu a regressão à média: depois de um resultado excepcional, o outro sempre é menor. Isso explica o efeito curador: você tem um dia ruim e o dia seguinte você não se sente tão ruim; um vendedor preguiçoso ganha um aumento de salário e melhora sua performance.
Sobre o erro das pesquisas
É um clássico: "as pesquisas falham". Essa é a percepção da grande maioria de pessoas e o entrevistado expõe dessa maneira a Satorra. Sua resposta é impecável: Muitas pesquisas acertam, mas não me chame domingo as 8 da manhã para perguntar sobre o consumo de álcool entre os jovens. Por isso que as pesquisas boca de urna podem ser influenciadas por uma voto da moda, com uma opinião mais popular. Mas como corrigir esse acontecimento? Esse é o trabalho do estatístico: injetar o azar nas amostras para eliminar a chance da incerteza vencer.
Outro dia eu li uma publicação que dizia: O partido X obteve apoio 1% maior que o mês passado, logo observei a ficha técnica e a margem de erro era de 2% pra mais ou pra menos!
Sobre causalidade e correlação
Este tema é outro clássico onde nós já escrevemos sobre isso nesse post. Satorra nos dá um exemplo muito atual, como o terrorismo: "Se nós soubéssemos mais de estatística, os árabes se alegrariam pois sofrem de vários falatórios. Agora na Franca a probabilidade de um terrorista ser muçulmano é muito grande, porém a probabilidade que um muçulmano seja terrorista é muito baixa.. Devemos estar atentos as variáveis ocultas que nos fazem confundir associação com causalidade.
Podemos observar a alta correlação entre a quantidade anual de cegonhas que chegam numa região e o número de bebês. A variável oculta é: quanto maior é a colheira, mais alimento para os pássaros e maior o número de gestações na aldeia.
Você pode ler o texto na íntegra neste link.